Foto em preto e branco de João Figueiredo, à época (1979) presidente do Brasil, com a mão estendida para cumprimentar criança que se recusa, com os braços cruzados.

 

Na semana que marcou o 55º ano do início da ditadura militar brasileira, o Prioridade Absoluta realizou a sexta edição do Expresso 227 para lembrar a gravidade dos atos praticados contra uma geração, que cresceu em um período de sérias violações de direitos humanos. Exibida no canal do Instituto Alana no Youtube, essa série de debates ao vivo tem o objetivo de dar visibilidade às discussões relacionadas aos direitos da criança, por meio da participação de convidados especialistas nos temas.

Mediada por Pedro Hartung, coordenador do Prioridade Absoluta, a conversa foi ao ar no dia 3 de abril e contou com a participação de Carla Borges, do Instituto Vladimir Herzog; Tatiana Merlino, uma das autoras do livro ‘Infância Roubada’, que aborda como as crianças foram atingidas pela Ditadura Militar no Brasil; e Eduardo Reina, um dos autores do livro ‘Cativeiro sem fim’, que traz as histórias de bebês, crianças e adolescentes que foram sequestrados pela ditadura militar.

Iniciando a conversa, Pedro Hartung citou o filósofo alemão Karl Jaspers que disse que “a experiência do presente compreende-se melhor refletida no espelho da História. O que a História nos transmite vivifica-se à luz da nossa própria época. A nossa vida presente processa-se no esclarecimento recíproco do passado e do presente”. E apontou que a missão da conversa é jogar luz sobre um passado tão sombrio, que impactou de forma significativa e irreparável a vida de crianças e adolescentes.

Carla Borges salientou que, infelizmente, ainda se sabe muito pouco sobre esse período. “Isso é muito grave porque um país que não conhece os erros da sua história está fadado a repeti-los no futuro. E, às vezes, num futuro não tão distante”. A jornalista observou quesão ainda menos mensurados os impactos do período na vida de crianças, filhas dos desaparecidos e presos políticos.

Tatiana Merlino, pontuou que crianças nasceram em prisões, foram torturadas,assistiram à prisão e ao assassinato de seus pais, além daquelas que foram exiladas.  “Muitas vezes se fala que quem foi assassinado durante a ditadura era por ser terrorista. Mas vamos olhar para as crianças. Elas eram terroristas?”, questionou.

Eduardo Reina traçou um paralelo entre a ditadura argentina e a brasileira. “Na Argentina existia um manual de procedimentos que as forças militares utilizavam. Ele determinava que quando os pais e seus filhos eram levados para os centros de detenção, crianças de zero a quatro ou seis anos eram passíveis de adoção”, disse. O jornalista explica que aqui no Brasil algumas crianças estão desaparecidas até hoje.

“Que a gente realmente possa garantir direitos fundamentais e liberdades para todas as crianças e adolescentes e lutar para que a ditadura, o autoritarismo e tantas outras violações e crimes contra todos os indivíduos jamais se repitam”, finalizou Pedro Hartung.

 

O Expresso 227 acontece uma vez por mês, sempre com temas diversos sob o recorte da infância. Você pode acompanhar todas as edições no Youtube do Alana.